Um levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas aponta que, para atender à demanda habitacional em todo o Brasil, será preciso haver cerca de 14 milhões de novas moradias até 2025.
Será que a construção de novas moradias individuais é realmente a forma para suprirmos essa necessidade ou compartilhar uma casa é a solução mais colaborativa e sustentável para as próximas gerações?
As mudanças no estilo de vida das pessoas estão transformando o jeito de morar e trabalhar. Os jovens de hoje em dia estão preferindo gastar tempo e dinheiro vivendo experiências. Segundo pesquisa da Today, 80% dos jovens da geração millenials, que têm hoje entre 25 e 39 anos, preferem alugar imóveis ao invés de comprá-los. Eles questionam as estruturas sociais que não funcionam e a moradia é uma delas: por que manter um apartamento inteiro para morar sozinho se passamos boa parte do dia fora de casa?
O “morar sozinho” perdeu o sentido do ponto de vista financeiro e ambiental: compartilhar o consumo de água, luz, energia e outros serviços é um passo enorme em direção à menor geração de resíduos e desperdício. O desejo é por morar em espaços menores, alugados, bem localizados e perto do trabalho ou do transporte público. A moradia também deve proporcionar interação social e experiências. E esse produto, que em breve será uma exigência da geração, é o coliving.
O estilo já é uma realidade mundial e, no Brasil, ainda engatinha, mas vem ganhando força e já é visto como uma possível solução do problema de moradia nas grandes cidades. Morando em comunidade, as pessoas fogem dos aluguéis caros, das dificuldades dos bairros periféricos e da solidão de morar sozinho.
O termo é derivado de cohousing – onde cada família tem a sua própria casa e divide os espaços de convivência. Então, coliving nada mais é do que apartamentos e prédios criados ou adaptados para serem compartilhados por pessoas, de uma forma intencional, organizada, facilitada e colaborativa. Simples assim.
Nos últimos quatro anos, mais de US$ 3 bilhões foram investidos neste mercado. Empresas de coliving no mundo inteiro validam a enorme demanda, independente da região. Na China, já são quase 800 mil quartos; na Índia os colivings já somam 25 mil quartos; nos EUA e na Europa são quase 30 mil quartos; e no Brasil ainda não passamos de 700 quartos nesse formato de moradia compartilhada.
Oka Coliving – Em Porto Alegre, o empreendedor Ricardo Neves, 32 anos, resolveu unir a experiência no mercado imobiliário com as vivências de moradia em colivings do mundo e inaugurou, em 2017, a Oka Coliving. O projeto piloto começou em uma casa originalmente de três quartos onde ele viu a oportunidade de adicionar mais dois quartos em espaços ociosos, que rapidamente, foi toda ocupada por outros moradores convidados por ele.
Atualmente a Oka conta com 50 quartos em quatro Okas (prédios inteiros e coberturas) com localizações estratégicas nos melhores bairros da cidade. Todos os espaços passaram por uma curadoria para ter o formato ideal de moradias compartilhadas, e a empresa ainda faz a gestão da comunidade – há regras claras, reuniões mensais e um processo de seleção para o candidato a novo morador.
Para dar viabilidade ao negócio, Neves, que é graduado em Business na Inglaterra e tem MBA em Negócios Imobiliários, explorou a brecha da sublocação residencial na lei do inquilinato. “A Oka é a responsável direta pelo imóvel e facilita a sublocação para o morador alugar por quarto. O morador é responsável pela fração do quarto dele”, explica.
Além do cuidado com a gestão prática e da comunidade, a Oka oferece um outro universo de experiências para os moradores, como aulas de yoga, jantares, e cursos, workshops que estimulam o autoconhecimento, a criatividade e a coletividade da comunidade Oka. Tudo isto é organizado pela gestora de comunidade, que também faz parte da equipe. “O nosso negócio é simples, desburocratizado, não existe a necessidade de fiador, nosso contrato é de seis meses. Queremos facilitar a vida do morador. Sem falar que nas nossas casas oferecemos tudo em um único boleto: água, luz, internet, tv a cabo, condomínio, iptu, limpeza duas vezes por semana, etc”, salienta Neves. O valor do aluguel varia entre R$ 700,00 e R$ 1850,00.
“Além disso, otimizamos espaço ao abrigar um maior número de pessoas, e assim, trazemos de volta para o mercado terrenos, edifícios, apartamentos e casas que hoje estão fechados, sem gerar valor algum para a sociedade”, afirma Neves.
A startup de Ricardo tem dado tão certo que os planos de expansão da empresa são audaciosos. Ainda no primeiro semestre ele pretende inaugurar mais duas Okas (totalizando 20 quartos) e até dezembro de 2020, outras duas novas Okas maiores, com 50 novos quartos. “A expectativa é que a gente feche 2020 com 120 quartos e 300 quartos em mais dois anos”, resume. Ou seja, um crescimento de mais de 100% por ano.
A Oka Coliving é local, mas ela pensa globalmente. Em dezembro de 2019, a empresa que começou praticamente sem nenhum investimento há apenas três anos, foi citada em dois super importantes estudos exclusivos do mercado mundial de colivings, o Coliving Insights e o Global Coliving Report 2019. A empresa foi a única brasileira reconhecida fora do Brasil por estar trabalhando o conceito de coliving de forma inovadora, genuína e escalável. “Para nós é uma alegria imensa ser apontado como referência ao lado de gigantes do mercado global. Mas é uma pena estarmos sozinhos ali, o Brasil precisa assumir uma posição de destaque nesse cenário, com mais empresas e iniciativas, pois o mercado é abundante e nossas cidades precisam de uma solução para a moradia urbana urgênte”, avalia Neves.
Esse novo jeito de morar impulsiona a economia colaborativa e permite novas experiências no mercado imobiliário. A busca é por áreas comuns para incentivar a colaboração, a comunidade, a criatividade e a inovação. “O objetivo da Oka é desenhar novos conceitos de ocupação de espaço, gerar novas oportunidade de negócios no mercado imobiliário, rentabilizar os espaços disponíveis, ao mesmo tempo que conseguimos tornar a moradia mais acessível, empoderando o morador por meio de uma moradia com mais propósito e conexão”, finaliza o empreendedor.
Fonte: OKa. Foto: Divulgação/ Oka.